Nós, humanos, temos a mania de medir tudo.
Usamos medidas em algarismos alfanuméricos para absolutamente tudo na nossa vida: a distância daqui até a padaria, há quantos anos você não vê a sua prima que mora na outra cidade, quanto está o quilo do tomate, quantas gramas de presunto sua mãe usa para fazer uma lasanha…
Outro dia, eu estava no mercado quando minha mãe pediu:
– Vai lá na sessão de frios e pega trezentos gramas de mussarela e trezentos de presunto.
E eu fui. Era a parte mais legal de ir no mercado quando eu era criança: ver os funcionários pegarem a quantidade que eles supunham que fosse a correta e colocar na balança, só para ver se eles acertavam de primeira.
– O próximo! – eu ouvi me chamarem.
Fiz meu pedido e me preparei para o show que acontecia na minha frente.
O moço pegou um papel timbrado com o logo do mercado e colocou na balança. Trocou de luva, esticou o braço, abriu a estufa, pôs a mão por cima da mussarela fatiada e eu vi seu polegar passar por toda a extensão da pequena pilha do produto. Ele mediu, olhou, virou e finalmente pegou uma porção do queijo.
Levou-o até a bandeja e o colocou em cima do papel timbrado.
Vi os números verdes da balança se mexerem em alta velocidade no painel preto, assim como o fundo tecnológico do Matrix e até uma pequena gota de suor escorreu pela testa do moço.
– Trezentos, não é? – ele confirmou.
Eu assenti.
Os números rodavam e rodavam até que…
0,295kg.
Ah. Quase!
O moço só se abaixou e pegou mais duas fatias e colocou na pequena pilha, sem se importar com nada do que eu fantasiava. Deu 0,302g.
Ele colocou o código na balança e, enquanto o aparelho imprimia a etiqueta, embrulhou o queijo, repetindo todo o processo e a mesma adrenalina com a pequena pilha de presunto.
– Obrigada! – disse, enquanto pegava os dois pacotes da mão dele.
Um com 0,302g de mussarela e o outro com 0,304g de presunto. Coloquei no carrinho onde minha mãe esperava com as compras e continuamos a fazer as compras.
Dei risada da pequena aventura que uma pessoa passa no dia-a-dia. Bastava ver o mundo com um pouco mais de cor que tudo se tornava uma história divertida.